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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CLUBE GASTRONÓMICO DE LUANDA ORGANIZOU PROVA CEGA DE VINHOS DO MUNDO NO RESTAURANTE-RESORT ACÁCIA RUBRA






















O recém criado Clube Gastronómico de Luanda promoveu no passado fim de semana no Restaurante do Resort Acácia Rubra ao Benfica em Luanda uma sessão enólogo-jazzística com a participação de alguns confrades e amigos do bom vinho e da boa música de Jazz.
O objectivo foi o de reunir à volta de uma mesa em amena confraternização apreciadores de grande experiência e bom gosto refinado na degustação de grandes vinhos do mundo, mas mais concretamente ainda o de estabelecer uma interessante comparação entre vinhos de várias proveniências no sentido de atribuir uma nota final de prova que acabou por revelar de forma singela as tendências enólogas actuais e a confrontação de filosofias vitivinícolas diversas e, em particular, as diferenças de paladares e aromas e dos processos de maturação e vinificação entre os já estabelecidos vinhos do Velho Mundo e os emergentes e excelentes vinhos do Novo Mundo que ganharam um mercado mundial nos últimos 30 anos. Participaram da sessão os confrades Adolfo Rasoilo, Lindo Cristóvão, Domingos Coelho, Júlio Silva, José Cunha, Arlindo Macedo, Hélder Fernandes, José Aguiar e José Alberto Valente.
Tudo isto ao som de Jazz da colecção pessoal de alguns dos confrades presentes, nomeadamente de A. Rasoilo, H. Fernandes, J. Cunha, L. Criostóvão, J.Silva e A. Macedo. O sistema de som escolhido para a ocasião por A.Rasoilo consistiu num amplificador americano a válvulas Jolida, ligado a umas colunas Confluence Villanelle francesas e a um CD Player inglês. Concebidas para um espaço fechado, as colunas francesas surpreenderam pelo seu detalhe e personalidade mesmo em espaço aberto, já que o local escolhido para o convívio foi a esplanada junto ao bar e piscina do complexo Acácia Rubra.
A grande novidade foi trazida por Júlio Silva, o trabalho mais recente do grande pianista norte-americano Herbie Hancock, “The Imagine Project”, uma celebração aos 70 anos do grande jazzman e a cerca de 50 anos de carreira, com a participação de músicos de várias origens musicais. Hélder Fernandes trouxe algumas novidades notáveis de Londres com realce para o novo e excitante Jazz polaco, e Arlindo Macedo apresentou uma novidade da África do Sul, confirmando a vitalidade da escola sul-africana e da sua rica e antiga tradição musical africana transposta para a modernidade. José Cunha apresentou “Earfood”, um dos melhores trabalhos do extraordinário quinteto do trompetista Roy Hargrove que classificou como um dos melhores quintetos do momento.
Foram assim postos à prova 4 vinhos tintos para um total de 8 confrades e a forma de prova acordada por consenso foi a de prova cega (ou blindfold test), ou seja nenhum dos presentes tinha conhecimento prévio da origem, marca, região, preço e castas dos vinhos que lhes foram apresentados a provar.
Este tipo de provas, bastante popular entre apreciadores e críticos enólogos, tem como grande virtude eliminar preconceitos e ideias feitas que geralmente influenciam não apenas subjectiva mas também objectivamente a apreciação. As regras são simples: cada participante fala sobre a sua apreciação o mais objectivamente possível relativamente às características principais ou simplesmente sobre as suas impressões pessoais de cada vinho degustado e conclui com uma nota final numa escala de 0 a 5. Os mais experimentados e veteranos avançaram mesmo, não só com com as suas apreciações, mas também arriscaram um vaticínio sobre a origem, as castas presentes no vinho e mesmo sobre a marca, as quais acabaram por ser um dos pontos altos da sessão que começou ao almoço e terminou com a noite já avançada.
A anteceder a prova cega foi servido, sob os auspícios do chefe do restaurante, um almoço com um prato de peixe assado seguido por um cabrito assado no forno, terminando com uma sobremesa, como forma de preparar o palato para os néctares que viriam a seguir.
O resultado da pontuação só foi dado a conhecer no fim, óbviamente, mas para efeitos deste artigo vamos dar a conhecer as diversas reacções à medida que foram sendo avançadas pelos confrades presentes.
O primeiro vinho veio da África do Sul, um Nederburg Reserve de 1989 (12.5 graus), um Cabernet-Sauvignon que acabou por ser o vinho mais antigo da sessão. Uma edição especial dificil de encontrar comercialmente que foi altamente valorizada por A.Rasoilo que lhe concedeu a nota 4 numa escala máxima de 5. A.R. disse tratar-se de um “monovarietal” ou, se preferirem, monocasta e mais ainda que era um Cabernet-Sauvignon, o que acabou por verificar-se correcto. Porém Domingos Coelho (1), Lindo Cristóvão (0), Júlio Silva (0), Helder Fernandes (1), José Aguiar (1) e José Cunha (0) disseram tratar-se de um mau vinho do velho mundo e acharam-no demasiado ácido. Acabou por ser o vinho menos pontuado da noite com um total de 9 pontos.
O Rock Bare McLaren Vale de 2007, um Shiraz norte- americano de 14.5⁰ foi quase unanimemente considerado de imediato como sendo do Novo Mundo. A.R. (3,5) disse logo tratar-se de um vinho australiano pelo seu paladar e aroma e apenas H.F. considerou-o como sendo europeu. Todos concordaram que o vinho era agradável e tinha um baixo teor de acidez, mas as previsões quanto à casta ou castas variaram do Cabernet-Sauvignon ao Malbec e, quanto às origens, da Argentina e Chile à Austrália. Os 19 pontos atribuidos pelos 8 participantes distanciaram-no do primeiro vinho, mas o melhor da noite acabou por ser uma surpresa sobretudo para os grandes apreciadores dos vinhos do Novo Mundo presentes na sessão.
O Mouchão de 2001, vinificado por Paulo Laureano no Alentejo a partir das castas Alicante-Bouschet e Trincadeira, 14.5⁰, foi o vencedor destacado. Apenas J. Cunha o achou um tanto ácido demais para o seu gosto, mas A.R. deu-lhe a única nota máxima da sessão, um 5, considerando-o logo à partida como um vinho português do Alentejo, mas no geral este vinho português mereceu nota elevada de todos, terminando com a pontuação mais alta da noite, 29 pontos. Alguma reserva no entanto foi feita por alguns dos votantes que consideraram que no final e passados alguns minutos da sua abertura , o vinho começava a perder rápidamente a sua qualidade, caracterísitica que consideraram comum aos vinhos com elevado teor de acidez.
A terminar a prova cega foi servido mais um vinho do Novo Mundo, um blend australiano. O Rosemount Traditional de 2004, 14.5⁰, da região demarcada de McLaren Vale, marca acessível no mercado angolano, elaborado à base do famoso Shiraz Australiano mereceu, apesar de ser o último, e numa altura em que os sentidos poderiam apresentar algum cansaço de apreciação continuada, mereceu ainda assim uma nota elevada, terminando na segunda posição com um total de 26 pontos. Três dos votantes consideraram-no um Cabernet-Sauvignon e a menor pontuação foi dada por A.R. (2,5 pontos)

Uma última apreciação revelou preços na ordem dos 40 aos mais de 100 Dólares por garrafa, sendo neste particular o Mouchão 2001, o mais caro, o que surpreendeu pela diferença mínima em relação ao segundo mais votado, o Rosemount Traditional, cerca de 4 vezes mais barato. O que no dizer de alguns convivas apenas vem demonstrar a ideia de que o vinho não é uma questão de preço, mas sim de qualidade.
No fim a conclusão geral foi a de que não foi uma sessão de grandes vinhos, daqueles que deixam vontade de ir à loja comprar mais uma garrafa com apenas um mau vinho, mas sobretudo o mais importante foi o convívio e amizade entre amigos de longa data e outros novos amigos que têm poucas oportunidades de se encontrarem devido ao nível das suas ocupações, mas que esta foi uma experiência interessante que deve ser repetida. E a de que os melhores vinhos não são necessáriamente os mais caros e famosos.

Luanda, 24/08/2010
Por : José Cunha

2 comentários:

  1. Caro Cunha parabéns pelo trabalho produzido. Quero no entanto dizer que esta prova cega teve para mim a utilidade de chegar a conclusão que , embora a prova de vinhos seja uma actividade lúdica ela , no entanto , deve , para evoluirmos nela , ter alguma metodologia , principalmente no processo de aprendizagem. Ora , penso que a melhor forma de aprendizagem seja a de conhecermos os elementos marcantes das castas. E para inicio de conversa proponho nas brancas o Chardonay ; Savignon Blac ; o Pinot Grigio ou o Verdelho e nas tintas o Cabernet Savignon ; o Syrah e o Merlot. E depois de termos fixado na mente e no palato os seus traços essenciais iríamos fazer dentro de cada uma das castas um longo passeio pelos vários países produtores.A grande Papisa Jancis Robinson pode ajudar com os seus livros metodologicamente bem elaborados " How to Taste Wine" que julgo também haver publicado em português.
    O Cabernet Sauvignon sul africano foi no sábado degustado , a segunda e ultima garrafa,e depois de devidamente decantado e revelou-se com corpo e de uma complexidade de um vinho de grande categoria.
    O nosso amigo Júlio discorda que o Mochão Tonel 3\4 2001 seja um grande vinho , sou democrata mas devo confessar que é uma opinião solitária na multidão de várias latitudes e nacionalidades que o admiram. Adolfo Rasoilo.

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  2. Quanto a musica penso que lacunarmente esqueceste-te da grande Patricia Barber , principalmente "Blue Café" que provocou orgasmos ao irmã do nosso saudoso "Chico Maravilha"

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