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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Novos membros...


O clube gastronómico de Luanda conta com mais 3 membros. Estes queridos confrades serão convidados para o próximo convívio com data a estabelecer mas que esperamos seja para breve. São eles:
- General Ito
- Rui Dantas
-João Lobo
O blog da causa, órgão difusor, e o seu Webmaster em representação da presidência General Adolfo Rasoilo e dos restantes membros do clube dá as boas vindas aos novos confrades. Bem hajam.

José Alberto Valente

sábado, 11 de setembro de 2010

Rotas tardias do prazer


Um elemento essencial numa prova de vinhos é a companhia. Por isso eu não gosto de lhe chamar prova de vinhos, gosto do nome degustação, mais abrangente substantivamente porque uma boa conversa também se degusta e se aproveita no balanço prazeroso do toque cítrico de um vinho decantado de propósito para enfeitar os tópicos de um sarau que se estende preguiçoso pela tarde fora arribando à noite em jeito de boas vindas à lua que vem divertida espreitar o ritmo de uma conversa já deslaçada pelos eflúvios bem-dispostos do cabernet que se despoja já não no decanter, mas nas gargantas que lhe dão a fama.
Numa destas tardes de sábado depois do encontro, num almoço que começou tarde auspiciando um tardio desenlace, o General Rasoilo abriu as hostilidades com um Chardonnay australiano para afogar uns carapaus que teimosos boiavam num molho de escabeche a preceito. O sabor do fruto do Chardonnay destaca-se ao primeiro trago dando fama ao nome porque também é conhecida a casta, “Melon Blanc” profusamente cultivada por esse mundo fora mas desta feita a irmã australiana foi a vítima de eleição. É nesta fase que entra o tópico essencial na degustação, a conversa que como num cacho cada uva esconde outra, escorre pela mesa com a mesma profusão do vinho e da honesta comida que com carinho a D. Rosa nos desfila para gáudio dos sentidos.
O Cabernet que se lhe seguiu era um senhor que pela provecta idade teve que ser acomodado num meio de locomoção mais condigno com a sua condição de velho senhor das lides que se presta à sua última viagem. Foi com profundo respeito que o vimos escorrer para dentro do decanter e o deixámos respirar assim livre e orgulhoso o ar vespertino das acácias que se pintam rubras ao cair do sol. Já a conversa volteava em torno de livros e filósofos, outro vício que partilhamos, quando já imbuído da temperatura necessária o Cabernet nos veio amaciar a garganta que já precisada estava desse afago consolador que só os taninos densos e aristocráticos conseguem conferir, deixando o palato aconchegado nos complexos aromas de frutos tais como a ameixa e a amora silvestre numa variedade vigorosa e de frutificação médio-tardia.
O sol descansava finalmente no ninho que escolheu algures por trás do Mussulo. O pardo da noite balançava entre as luzes tremeluzentes embaladas pelo ressonar dos geradores que embalam a noite de Luanda. A pedras de gelo a cair cantantes no vidro dos copos davam as boas vindas ao Cutty-Sark velho que teve as honras de encerrar o périplo das cordas vocais que atravessaram meio mundo num canto de um alpendre, de Hegel a Miller, da história de Angola que se confunde com a lusa de que me orgulho de pertencer. O mesmo orgulho de uma tarde a privar com esse Senhor que da vida sabe retirar os seus prazeres, vindimando as lições que fazem dele um inconformista no mais nobre e puro sentido que a palavra em si encerra.
José Alberto Valente