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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Eu queria fazer-te um poema



Eu queria fazer-te um poema
Que nunca ninguém tivesse feito
Queria escolher palavras que nunca tivesse lido
Formular-te desejos que nunca sentiste
Desenhar-te em traços intermitentes
Colorir-te em cores surreais

Apanhar-te na simbiose cálida
De um fado com uma morna,
Descobrir-te na combinação
De um Dali com um Monet,
Encontrar-te na esquina
Da saudade com o agora.

E agora… e agora roubar-te
Da realidade para o sonho
Da calma para a tormenta
De uma tormenta de lençóis
Em cama revolta e enfim
Fazer-te o poema…
Escrito com os nossos corpos,
Declamado nos nossos sussurros


José Alberto Valente

Benguela aos meus olhos



Encostada aos treze, é de sorte que te falo
De te ver assim dolente e preguiçosa
Vermelha, rubra de paixão
A beijar o mar em ares de ociosa.

Morena nasceste, de branco te vestes
Nas areias em que te espraias.
Generosa de azul, de mar e céu
Oferendas acácias em ruas e praias

Donzela com ares de mulher feita
Vaidosa, atrevida e traquina,
És Benguela desde que te vi
De África a mais bela menina.

José Alberto Valente

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Crónica de um óbito



Íamos numa pequena viagem pela província do Huambo, entre amigos, no trajecto tivemos uma surpresa, um Coelho maluco suicidou-se, atirando-se sem pensar sobre as rodas do Jeep que estava à nossa frente, “ Que cara maluco, suicida ou terrorista!”, podíamos nós ter colidido com o carro na nossa frente, mas num momento de insanidade a vitima, acabou com sua vida.
Que loucura! O que poderíamos fazer com aquele minúsculo individuo, ali amassado por 2,5 toneladas de ferro.
Paramos imediatamente, para prestar socorro à vítima, pois as leis de trânsito são rígidas e caso nos ausentássemos sem oferecer auxílio poderíamos ser punidos.
Mas no entanto nada pudemos fazer, a vítima jazia já sem vida.
Bom, para o melhor andamento da situação tivemos que remover o corpo do pequenino amaçado, e levamos até à fazenda, até porque já estávamos num horário avançado da noite.
Então veio o dilema, o que fazer com a vítima? Eliminar o corpo, dar aos cães, o que fazer?
Num súbito de lucidez tivemos então a intervenção do Sr. Rasoilo, a prontificar-se para resolver a situação.
Assim tive que dar minha contribuição para que pudéssemos de uma vez resolver isso, pois já passava das duas da manhã.
Muito rapidamente peguei uma faca bem afiada e tirei a camisa (couro) da vítima, e o coloquei em água corrente até o dia seguinte.
O dia já amanhecia quando o Sr. Rasoilo conduziu o preparo das honras fúnebres da vítima, colocou o pequenino em uma panela com um bom vinho tinto e muito tempero e ali se consumou o Coelho à Caçador.

Att. Leandro Fioreze.